Boteco do Beco: 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

Quem somos e quem achamos que somos?


Essa é uma pergunta que eu venho me fazendo com certa frequência... Nos poucos momentos de reflexão que disponho do meu dia, constantemente me pergunto: quem é o Paulinho que as outras pessoas enxergam?
Temos (na maioria das vezes) uma idéia errada da imagem que as pessoas vêem de nós. Achamos que as pessoas "engolem" aquela imagem que queremos passar. Pegando como exemplo eu mesmo, já percebi que o Paulinho Biazi que eu apresento para as pessoas e que eu acho que apresento para as pessoas nem sempre é o Paulinho Biazi que as pessoas percebem. Há alguma coisa nesse intermédio que modifica a imagem do que eu acho que apresentei para o que a pessoa recebeu e interpretou!
Quem somos nós afinal para os outros? É fácil (e as vezes não) dizer quem somos nós para nós mesmos, mas imagine que existisse alguém exatamente como vc e que convivesse com vc... Será que vc se daria bem com essa pessoa? Será que sua convivência seria passífica entre vc e esse seu "espelho"? Dizem que temos dificuldade em conviver com pessoas que se parecem com a gente. Será verdade?
Você conhece as várias pessoas que existem dentro de você mesmo(a)? As várias personalidades que vc tem? As várias máscaras que vc apresenta para a sociedade? Pára pra pensar um pouquinho e relembre das situações que vc teve que se mostrar um "camaleão" para disfarçar uma personalidade... Será que nós conhecemos quem nós realmente somos?
As vezes ficamos tão soterrados pelas máscaras que vestimos para nos apresentarmos para a sociedade que acabamos por nos esquecer de quem somos realmente. Esquecemos daquela verdadeira personalidade que as vezes temos vergonha ou medo de apresentar. Tudo isso pq temos medo de sermos rejeitados ou repelidos pela sociedade. Esta sociedade que classifica, que julga e que rotula as pessoas acaba colocando sobre nossas costas um fardo da qual nem sempre devemos carregar que é o fardo da "simulação". Simulamos no dia-a-dia um alguém que não somos. Acabamos por criar um grande conto-de-fadas em que nos tornamos o principal personagem, encenando um papel que nem sempre condiz com a verdade intrínseca que está em nosso âmago. E esse fardo pesa... E esse fardo nos massacra a cada dia... A cada situação em que temos que nos fantasiar de algo que não somos. Isso nos desgasta até chegar o ponto em que entramos em colapso sem saber quem realmente somos e qual papel estamos encenando neste teatro da vida.
Os psicólogos dizem que é tudo culpa do stress, mas é um stress causado por nós mesmos, pois trabalhamos dobrado para representar um personagem e convencer as pessoas à nossa volta que este personagem existe. Não seria melhor sermos nós mesmos e enfrentarmos a consequência disso? Pelo menos não estaríamos lutando por algo real? Não estaríamos defendendo o verdadeiro protagonista desta história?
Mas o medo... Este medo que acorda com a gente e que nos acompanha passo a passo... O grande medo da exclusão. O medo de ser diferente, de ser original, de ser você mesmo.
Quem é você? Quem as pessoas acham que você é? Como a sociedade te vê? Será que ela te vê como você é ou como você quer se apresentar pra ela?
É como nos domingos, quando vestimos nossa melhor roupa para passear no parque e as pessoas dizem: "Oh, como é bela aquela roupa, grande homem deve ser aquele..." Então chegamos em casa e tiramos aquela roupa. Ficamos nus. Esta imagem só nós conhecemos, a imagem do nosso verdadeiro "eu", sem roupas, sem máscaras, sem maquiagem.
Corra o risco de mostrar para as pessoas quem é você. Mas quem é o verdadeiro você. Este "você" que está com medo, escondido em um canto da sua personalidade. Comece com as pessoas que vc acha que realmente gostam de vc. Seja sincero e peça sinceridade, pois garanto que este "eu" verdadeiro não estará preparado para o mundo. Então vá moldando-o... Vá educando-o para o convívio social e quando você menos perceber, estará vivendo livre, sem as algemas psicológicas que já vêm enrraigadas na nossa personalidade. Perceba que a vida ficará mais leve, mais gostosa de se viver e menos estressante, pois não teremos mais o trabalho de vivermos uma história que não é nossa.
Viveremos nós mesmos, seremos quem realmente somos e isso será tão bom quanto assistir uma bela peça teatral.

Não represente um papel na qual o personagem principal é você mesmo, porém você tem medo de encená-lo.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ser independente? Devolva-me aos 7 anos!


Pois é... daqui uns dias estarei completando 26 anos. Foram 26 anos de muitas estradas e me lembro bem de quando era mais novo e bradava pelos quatro cantos a frase adolescente mais clichê que já ouvi na vida: "não vejo a hora de ser independente!" Mal sabia eu a bobagem que eu tava dizendo! Mas é aquela velha história... falar, até papagaio fala, mas quando a água bate na bunda, ai a gente sente o peso nas costas de realmente ser independente.
Não tou falando dessas pseudo-independências do filho que sai de casa e vai morar sozinho em outra cidade por causa da facul (sem alusões, ok?), mas continua a ser sustentado pelos pais! Nem daquela falsa idéia de que ser independente é, puro e simplesmente mandar no próprio nariz e sair de casa sem se preocupar com a hora de voltar e não ter que dar satisfação pra ninguém. Ser independente está muito, mas muito além disso! Tanto que eu só descobri isso esse ano!
2008 foi um ano de "conquistas" pra mim. Conquistei minha verdadeira independência, mas é aquela dura, crua e sórdida independência que não passa a mão na sua cabeça e nem te dá bjinho de boa noite antes de dormir! Nem aquela de quando vc largou a colherzinha de plástico e passou a comer de garfo, ou aprendeu a limpar a própria bunda! É a independência escarrada na sua cara cheirando à verdade e te mostrando da forma mais agressiva que se você não acordar todo dia as 07 da manhã e pegar um busão, vc não trabalha! E que se vc não trabalhar, você não come! E que se vc não comer, vc não terá forças suficientes pra pegar o busão no outro dia pra trabalhar! E sem trabalhar vc não tem dinheiro! E sem dinheiro vc não paga as contas: Facul, energia, água, aluguel, internet, impostos, farmácia, mercado, alimentação, gás, roupas, presente pra namorada, transporte, buteco, motel, móveis, manutenção da casa... O melhor de tudo é quando vc, final do mês soma as contas e descobre que por mais que você as enxugue, elas continuam maiores que seu salário. Maldito círculo vicioso que fielmente estupra meu orçamento todo mês!!!
É... tou morando por conta agora. Desde o começo do ano (2008) estou por conta própria. Metaforicamente, empurraram minha vaquinha e desde então tive que aprender a plantar. Uma ajuda aqui, outra ali, mas é apenas ajuda. Nada compromissado ou regido por contratos de patrocínio. Atualmente moro na Casa do Rock com mais 4 músicos, mas a coisa aqui não é fácil. A vida não é e nunca foi um mar de rosas pra quem tem que cavar com as próprias unhas as oportunidades e saber tirar leite de pedra. Sabe aqueles dias que vc tem que almoçar pipoca e jantar mingau de fubá pq não tem grana pra comprar o rango? Não sabe? Ah é, talvez vc não seja ainda independente. Não que ser independente esteja diretamente ligado a passar fome, mas pra quem não é favorecido por alguma gorda herança ou por pais que se sacrificam todo mês pra depositar aquele suado dinheiro na sua conta (e que vc enfia no cu gastando com amigos, festinhas, baladas e roupinhas de griffe pra ficar na moda), vc tem que se virar do jeito que der pra arrumar grana! Passar o dia no trampo, varar a noite fazendo bico de publicitário e fim de semana tirar uma grana de free tocando em algum lugar. As olheiras agradecem! Quando você perde todas as suas fontes externas de renda e precisa ralar pra ganhar dinheiro, ai sim meu amigo... esse é o primeiro passo pra sua independência. E se prepare pq qualquer soco bem aplicado na boca do estômago vira um singelo carinho quando se passa por essa transição.
Me lembro da minha festinha de 7 anos como se fosse a 19 anos atrás... (pausa, suspiro e olhar de quem não se lembra bem da festinha). Enfim, me lembro vagamente da minha festinha de 7 anos, mas lembro que tinha balão, brinquedinhos pros convidados, bolo, salgadinho, docinho, refrigerante, eu estava de terninho branco, tinha até a Xuxa cantando e dançando na festa (uma prima minha fantasiada, ok?) e super heróis em cartazes por todos os lados... Sabe o que é melhor de tudo? EU NÃO PRECISEI FAZER ABSOLUTAMENTE NADA para que tudo isso acontecesse. Ou melhor, a única coisa q eu tive que fazer era fazer aniversário! Só! Mais nada! Não gastei com nada, não perdi tempo organizando, não me desdobrei entre emprego, banco, e facul pra poder realizar a festa. Tava lá, tudo pronto... me esperando! Lembro-me de que nesses anos felizes, as únicas coisas que eu tinha que fazer (obrigações) era ir pra escola de manhã, fazer a tarefa a tarde e mais nada! Nada dessa bobagem de ser independente ou de "fugir de casa pq morar sozinho é melhor".
Confesso que no auge dos meus 15/16 anos pensei em fugir de casa, mas quem não pensou nisso um dia? Talvez se eu tivesse feito a fuga, teria descoberto com antecedência o quão é foda ser independente e teria voltado pra casa no dia seguinte como um cão de rabo entre as pernas. Hoje esse cão não pode mais voltar pra casa. Não se sabe ao certo se é por orgulho ou pq realmente chegou a hora de virar homem e viver por conta própria. Apenas sei que chegou a hora de parar de olhar o frango utopicamente rodar na padaria e se virar pra descolar algumas migalhas. A vida é muito mais bela quando se olha ai de cima sabendo que a única preocupação que você tem é se seu pai vai depositar o dinheiro na sua conta no fim do mês. A vida, daqui de baixo cheira a esgoto e tem gosto de realidade, mas é a forma mais gratificante de ser alguém na vida. É saber que por mais pouco que você tenha, é seu! Comprado ou conquistado com seu suor e sacrifício! Coisas assim dinheiro (dos outros) nenhum compra.

Ser alguém, não por hereditariedade, mas por merecimento. Independente, fudido e cheio de contas, porém feliz por poder sair sem hora pra voltar, mas saber que 22h preciso estar de volta pq a responsabilidade me chama ao trabalho no outro dia. A liberdade é o que nos prende!

Independência se conquista com suor e isso te impele à responsabilidade de saber administrar sua independência de forma ordenada, ou então tudo vira bagunça e vc volta a ser um simples mortal sustentado por alguém.



Que saudades da época que eu e meu amigo imaginário tinhamos tempo de ter tempo!


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(Aos que se doeram com o texto, encare como uma crítica construtiva de alguém que nem o pão que o diabo amassou comeu, pq não tinha pão, só o diabo rindo da situação.)